Privatização da TAP – “o accionista privado tem de garantir a ligação com a Guiné-Bissau”


A rota Lisboa-Bissau passou a ser ícone das exigências de serviços ao futuro accionista privado da TAP. Gente ilustre mas desconhecedora do assunto, como o consagrado Miguel Sousa Tavares, assume voz solene quando ‘exige’ que o accionista privado tal garanta.

O Manifesto contra a privatização da TAP não faz as coisas por menos. Em Portugal, “não somos um país qualquer: somos um país com responsabilidades para com […] os cidadãos das antigas colónias, na América Latina, em África e no Oriente, um espaço de 250 milhões de falantes da mesma língua: o português.”.

Acontece que a ligação aérea entre a Metrópole e a “nossa” antiga colónia Guiné (isto para respeitar o espirito da letra do Manifesto)

-não é operada pela TAP do accionista estado porque “não é rentável”,

-é operada por uma companhia aérea portuguesa, porque segue um modelo de negócio flexível e de baixo custo.

Em síntese,

-o accionista Estado não assegura a rota Lisboa-Bissau, o mercado funciona e agora vamos exigir ao accionista privado que a assegure?

Vejamos o detalhe desta cena.

*Exigência do Ministro da Economia e pragmatismo do CEO da TAP
Das duas uma, ou Ministro e CEO não se entendem, ou o Estado exige ao accionista privado que garanta um serviço que a ‘sua’ TAP não garante. Em qualquer dos casos, a cena não é bonita.

Em 14 de Novembro, o Ministro da Economia afirma sobre a TAP privatizada: “Voos para a Guiné? Claro que o futuro accionista da TAP tem que garantir. Faz parte do caderno de encargos" (aqui).

Os voos da TAP para Bissau são suspensos em Dezembro de 2013 na sequência do embarque forçado pelas autoridades guineenses de 74 sírios no aeroporto de Bissau rumo a Lisboa. Segundo o jornal i de 9 de Dezembro,

-Fernando Pinto adiantou que, quando a TAP suspendeu a operação, "outras empresas" assumiram a sua posição e, por isso, houve "uma queda muito forte da procura".

Mais, o CEO Fernando Pinto informa que, apesar de já ter "a garantia das autoridades que as condições de segurança estão reunidas", os voos da TAP Lisboa/Bissau suspensos desde Dezembro de 2013, não são retomados porque:

-"A razão principal é mercado mesmo. Chegámos a fazer uma pesquisa para ver como estavam as possibilidades, mas temos uma procura muito baixa do mercado" (aqui).

*Rota Lisboa-Bissau operada pela euroAtlantic
A Euroatlantic é uma companhia aérea portuguesa (basicamente, Thomaz Metello e Grupo Pestana), com modelo negócio de muito baixo custo e muito flexível. Em síntese,

-“A euroAtlantic foi fundada por Tomaz Metello, actual Presidente do Conselho de Administração e accionista maioritário, e tem participação do maior grupo português de lazer e turismo, Pestana Hotels & Resorts.” – ver http://www.euroatlantic.pt.

A euroAtlantic opera a rota Lisboa-Bissau e anuncia voos de ida e volta desde €591,17:

 

Simples.

 

A Bem da Nação

Lisboa 22 de Dezembro de 2014

Sérgio Palma Brito

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