Estatísticas de Turismo – Exemplo de Avaliação Crítica

O presente post pretende apenas mostrar como aprofundar a análise de dados estatísticos pode levantar mais perguntas do que dar respostas.


Este post é o Quinto (Primeiro, Segundo , Terceiro, Quarto, Quinto, Sexto) de uma série sobre temas abordados no Relatório:

-Quantificar a Contribuição do Turismo Para a Economia

As remissões entre chavetas referem este Relatório, excepto se outro documento for mencionado. Um Glossário facilita a leitura do post.

1.Retomar o Contexto
Retomamos o contexto do Post anterior sobre a importância de Familiares e Amigos no Conceito Abrangente de Turismo [ver ponto 1.2.3 do Relatório]. O Gráfico 1 contextualiza a utilização dos diferentes Tipos da Definição Abrangente de Alojamento Turístico [ver Ponto 3 e Anexo III do Relatório] pelos Residentes em Portugal nas suas Viagens com Destino em Portugal.

Gráfico 1 – Dormidas de Residentes em Portugal por Tipo de Alojamento Turístico (2012)


Fonte: Elaboração própria, com base em INE – Estatísticas de Turismo, 2012

No Inquérito, o INE considera os seguintes Tipos de Alojamento Turístico:

1.Alojamento Turístico Colectivo
     -Estabelecimentos Hoteleiros
     -Outros Estabelecimentos de Alojamento Colectivo e Alojamento
      Especializado,

2.Alojamento Turístico Individual
     -Quartos arrendados em casas particulares
     -Apartamentos ou casas arrendadas
     -Segunda residência
     -Alojamento fornecido gratuitamente [por Familiares e Amigos]
     -Outro Alojamento Privado.

No próximo Post procuramos esclarecer algumas das questões levantadas por dois Tipos de Alojamento Turísticos:
-Apartamento ou Casas Arrendadas,
-Segunda Residência.

2.Evolução 2009/2012 do Alojamento Utilizado Por Residentes em Portugal

*Evolução 2009/2012 das Dormidas de Residentes em Portugal por Tipo de Alojamento Turístico
O Gráfico 2 ilustra a evolução entre 2009/2012 das Dormidas por Tipo da Definição Abrangente de Alojamento Turístico. A informação parece plausível:
-descida sustentada da utilização de Estabelecimentos Hoteleiros, uma descida facilmente explicável pela Crise,
-estabilidade na utilização de Outros Estabelecimentos de Alojamento Colectivo,
-na utilização da Residência Secundária, uma queda entre 2009/2010 e estabilidade depois, um padrão que encontramos em Portugal e, por exemplo, no Reino Unido,
-um crescimento do Alojamento Gratuito em Casa de Familiares e Amigos, de novo algo explicável pela Crise,
-mais estranha e sem explicação fácil é a queda abrupta entre 2011/2012 na utilização de Apartamentos e Casas Arrendados – este tema fica em suspenso.

Com base no Gráfico 3, veremos que há problemas mais importantes.

Gráfico 2 – Dormidas de Residentes em Portugal por Tipo de Alojamento Turístico, Evolução 2009/2012


 Fonte: Elaboração própria, com base em INE – Estatísticas de Turismo, 2012

*Dormidas de Residentes em Portugal por Tipo de Alojamento Turístico Classificado e Não Classificado, Evolução 2009/2012
-Nota sobre a metodologia
Começamos pelo método seguido. O Inquérito à Permanência de Hóspedes na Hotelaria e Outros Alojamentos existe desde 1965, a sua metodologia foi verificada por várias vezes e é preenchido pelos Empreendimento Turísticos do Alojamento Classificado – o número de Dormidas é, à priori, merecedor de confiança.

O Inquérito às Deslocações dos Residentes existe desde 2009, é realizado junto de Turistas, que respondem a perguntas sobre a duração da Viagem e o Tipo de Alojamento utilizado. Três observações:
-o Tipo de Estabelecimento Hoteleiro é familiar aos portugueses,
-estamos a lidar com a Definição Abrangente de Alojamento Turístico, que abrange o Alojamento Turístico Classificado,
-com excepção dos Aldeamentos Turísticos, (422 mil Dormidas em 2012), todos os Empreendimentos Turísticos do Alojamento Turístico Classificado, podem ser integrados em Estabelecimento Hoteleiro da Definição Abrangente do Alojamento Turístico.

-Realidade dos números
O Gráfico 3 compara a utilização dos dois Tipos de Alojamento Colectivo e da sua Soma com as Dormidas de Residentes no Alojamento Turístico Classificado.

Constatamos que
-o número de Dormidas no Alojamento Classificado é superior ao das Dormidas em cada um dos Tipos de Alojamento Turístico Colectivo e é também superior ao da soma dos dois,
-por Definição dos Conceitos, o número de Dormidas no Alojamento Turístico Classificado tem de, pelo menos, ser inferior ao da soma das Dormidas nos dois Tipos do Alojamento Turístico Colectivo.

Não estamos na situação em que a observação da realidade nega o modelo. Estamos perante uma contradição entre dois resultados, obtidos de maneira independente.

Gráfico 3 – Dormidas de Residentes em Portugal por Tipo de Alojamento Turístico (2012)


Fonte: Elaboração própria, com base em INE – Estatísticas de Turismo, 2012

3.Próximos Passos
Este Post ajuda a compreender a razão da análise crítica ser a primeira reacção a ter perante a informação estatística que nos chega. É o que fizemos no Ponto 2.

Uma vez detectada uma incongruência, o Primeiro Passo é verificar se não há erro nosso. Verificámos e não encontrámos erro nosso.

O Segundo Passo consiste em recorrer a um Revisor. Neste caso, pedimos aos leitores que revejam o assunto, pois mais facilmente detectam o erro do que nós próprios.

Se esta revisão confirmar o erro, passamos ao Terceiro Passo. Estamos prante um exemplo das propostas que fazemos sobre Instituições e Colaboração Entre Instituições [ver ponto 1.4 do Relatório]:
-Turismo de Portugal, INE e Banco de Portugal promovem e estão abertos ao feed back dos utilizadores, para identificar erros/omissões e melhorar a informação disponibilizada.

Com efeito, podemos estar perante erro de um dos Inquéritos do INE, ou dos dois.

A Bem da Nação

Albufeira 11 de Agosto de 2013


Sérgio Palma Brito

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